1 – Ter ideais. 2 – O ideal se conquista com esforço. 3 – Ausência de ideais. 4 – Como encontrar o próprio ideal. 5 – O futuro não depende da sorte
1 – Ter ideais
Ter ambições elevadas, sonhos altos de transcender a si para se pôr ao serviço dos demais, cabe no coração dos adolescentes. Aos quinze anos, muitos jovens, ao se sentir emulados, se espelharam em pessoas a quem admiravam pelo seu saber artístico, técnico ou científico, e seguiram seus passos.
Louis Pasteur, cientista francês, cujas descobertas tiveram enorme importância na história da química e da medicina, ao tomar posse na Academia Francesa, disse: “Feliz de quem traz em si um deus interior, um ideal de arte, ideal de ciência…”. Ter um ideal, já na adolescência, é a indicação de uma meta a ser alcançada e dos meios para consegui-la. Quem tem uma direção, organiza-se para colocar em andamento o seu projeto, canaliza seus sentimentos e a determinação da vontade para esse alvo.
Quando um ideal se apodera de alguém, vem a ser o princípio diretor das ideias, dos desejos, afetos e ações. Aspirar a algo valioso é condição necessária para dar sentido à própria existência e orientar as energias.
2 – O ideal se conquista com esforço
Para viver um ideal é relevante a educação nas virtudes para de não ceder ao mais fácil. Formar nas virtudes requer salientar a importância da exigência pessoal, do empenho no trabalho e no estudo, no espírito de serviço aos demais, na temperança, pois esses bens estão acima dos desejos materiais e facilitam a compreensão das realidades do espírito, onde reside o verdadeiro ideal, aquela aspiração que ajudará outras pessoas.
Quem deseja algo com entusiasmo, com sentimentos, mais facilmente enfrentará as dificuldades. É preciso armar-se de coragem para contribuir com o melhor de si ao serviço dos demais, que é o verdadeiro sentido do amor. Para isso, e preciso corrigir os traços do temperamento que se opõem à entrega de um ideal, às inclinações pessoais que não permitem tirar todo rendimento das qualidades pessoais. Ficar na base da montanha é mais cômodo que subir ao cume para divisar lonjuras. Preferir uma vida tranquila, sem dor ou embaraços deixa, por fim, um sabor amargo.
Daniel O´Connell, líder irlandês que no início do século XIX lutou pelos direitos dos trabalhadores, quando ainda era adolescente dizia que “Ainda que a natureza não me tenha dado talentos de primeiríssima ordem, jamais me contentarei em ser medíocre na minha profissão”. Thomas Edison, americano criador de vários dispositivos de comunicação e de sistemas de energia elétrica, utilizados até hoje, e especialmente conhecido como o criador da lâmpada incandescente, disse aos seus interlocutores, que o julgavam ser um gênio: “Que balela! Afirmo que o segredo do gênio é o trabalho… O gênio se compõe de 1% de inspiração e de 99% de transpiração”.
3 – Ausência de ideais
Sempre encontraremos pessoas indiferentes à vida que poderemos ajudar com a nossa palavra. A ausência de convicções causa muito mal, e faz perder o tempo ao esperar por algo que nunca irá se concretizar. Não é racional andar à toa, levar a vida na flauta, sem indagar-se sobre qual é a missão que lhe está destinada, qual a contribuição pessoal para melhorar a vida de tantas pessoas que sofrem. A indiferença nesse ponto leva ao endurecimento do coração, que é a antecipação do fracasso. Quem vive satisfeito na mediocridade, na vida cômoda e egoísta, tenderá a ceder cada vez mais nesses aspectos.
Evidentemente há aqueles que, influenciados pelos aspectos exteriores da pessoa, sonham com ideais de fama, desejo de ter influência nas mídias ou possuir muito dinheiro, mesmo que interiormente sejam vazios de valores humanos. Porém, é fato mais que comprovado por inúmeros testemunhos dos que buscaram falsos ideais, que tarde demais constataram que só se é feliz no amor, na doação, pois o egoísmo, o estar obcecado por si mesmo, conduz à tristeza. Seria bem oportuna a leitura do boletim “As motivações humanas: o que o leva a agir?”.
No inferno de Dante as almas covardes sofrem tormentos especiais. O poeta ouve os gritos de cólera e os uivos de dor dessas almas, e pergunta ao seu cicerone: − Quem são essas almas que parecem tão profundamente mergulhadas no luto? O mestre responde: − Tal estado miserável é o das almas tristes que viveram sem infâmia e sem louvor; o céu as rejeita para que lhe não alterem a beleza. Nenhuma lembrança deles subsiste no mundo; a justiça e a misericórdia os desprezam. Não discorramos sobre eles: veja e segue”.
4 – Como encontrar o próprio ideal
Examinar as possibilidades pessoais. Blackie dizia que a energia moral se adquire pelo exercício dos livros e discursos, e podemos entender por isso a busca por palestras, aulas, lives, vídeos selecionados com bons conteúdos, testes para identificar as aptidões pessoais, etc. Essa busca será a sinaleira que facilitará o encontro de uma tarefa útil, que depois deverá ser empreendida pelos pés e pelo esforço da vontade. A vontade é a faculdade que age de acordo com as leis da razão, e ajudará na busca por encontrar o melhor modo de prestar um serviço útil a si e a todos. A vontade crescerá mediante o esforço de enfrentar a volubilidade de ânimo, a indolência, a apatia natural para certos esforços ou estudos. Porém, os sentimentos também podem ajudar, pois quem realiza algo com sentimentos e paixão, consegue fazer melhor, pois enfrentará com mais forças as dificuldades para atingir a meta que busca.
Bernardo de Claraval dividia os homens em duas grandes categorias: os que querem saber só para saber, que acendem suas luzes à noite e as apagam ao primeiro clarão do dia, e se empalidecem sobre os livros para devassar os segredos da natureza ou assimilar o pensamento dos autores; e há os que trabalham para um fim mais nobre e cultivam a inteligência a fim de a consagrar ao serviço do bem. A sabedoria está em tirar proveito da instrução para transformar a própria vida em serviço aos demais: é nessa decisão de entrega, de doação de si, onde reside o verdadeiro amor e, consequentemente, a felicidade.
Muitos dons que os adolescentes possuem são desperdiçados bobamente porque lhes falta o essencial: uma vontade forte, um caráter resoluto, um querer com tenacidade. Há uma curiosa lenda que fala de um menino que numa noite de verão contemplava as águas de um poço, e ficou maravilhado ao ver flutuar nelas infinitas estrelas. No dia seguinte, ao voltar à beira do poço não viu mais os astros e retornou triste para casa dizendo a todos que eles se tinham afogado. Hoje, a estrela de muitos adolescentes não consegue brilhar porque a inteligência deles se tornou preguiçosa, e o esforço de perseguir algum ideal que vale a pena sucumbiu diante das telas de games e celulares.
5 – O futuro não depende da sorte
O futuro não depende da sorte ou do acaso, mas do empenho que se coloca no momento presente. Cada pessoa é responsável pelo seu porvir, que se conquista com o que realiza agora. Já dizia Carlyle que “O viver é uma conjugação ininterrupta do verbo fazer”. Cada um deve examinar suas forças, suas qualidades, tendências e gostos para aproveitá-los na busca de um afazer que torne melhor o mundo em que vive. Para essa reflexão se pode buscar ajuda dos pais, professores ou amigos prudentes e com experiência de vida, mas a decisão será sempre pessoal.
Enamorar-se da beleza, da verdade e do bem, faz aproveitar melhor o tempo e as horas de trabalho e de descanso, e organiza as potências espirituais e morais. A razão se torna soberana e os sentimentos e paixões se inclinam a ela. O ideal regula e ordena as ações, realça, embeleza e transforma as miudezas da vida. O ideal valoriza os talentos e habilidades e tendências inatas, desenvolve as qualidades intelectuais e as morais.
Texto extraído e adaptado por Ari Esteves, com base na obra “Rumo à cultura”, de L. Riboulet, Editora Globo, Porto Alegre, 1960. Desenho de Aguida Medeiros (@aguidamedeirosm)
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