1 – A ausência definitiva de um dos cônjuges. 2 – Não ancorar-se no passado. 3 – É possível educar quando se é só? 4 – O que afeta a ausência de um dos pais. 5 – Educar com realismo e ajudar a que os filhos pensem nos demais.
1 – A ausência definitiva de um dos cônjuges
Educar os filhos é acompanhá-los ao longo da vida. Essa tarefa deve ser realizada a dois − pai e mãe −, sendo que o olhar de ambos sobre cada filho deve ser o mesmo. A falta do pai ou da mãe supõe um grande baque nesse caminho. Nem todas as famílias estão completas. Por vezes, a morte pode lançar por terra muitos projetos. São momentos que exigem uma mescla de fortaleza e decisão para olhar o futuro e não ancorar no passado.
Diversos estudos demonstram que a influência materna sobre os filhos é maior dos 0 aos 7 anos, e a influência paterna passa a ser maior na adolescência e juventude, diminuindo a da mãe: se a influência paterna nos inícios é complementar passa a ser fundamental nesses anos difíceis da adolescência. A falta de um dos cônjuges, que pode ocorrer de improviso ou como algo anunciado, sempre deixa um grande vazio no labor educativo, e ninguém fica ileso. A ausência de um dos pais determinará o modo de educar os filhos. É diferente que faleça um dos pais ou que se dê uma separação pelo divórcio: neste último caso, a decisão é pessoal e se toma com todas as suas consequências; no caso da viuvez é um modo de vida não escolhido.
Para os filhos é muito mais difícil sofrer uma separação pelo divórcio do que a ausência definitiva do pai ou da mãe pela morte: para a criança, essa ausência definitiva não foi desejada previamente, e a criança não alberga nenhuma dúvida sobre a sinceridade ou autenticidade desse nexo: há dor, mas não dúvida de quanto era amado pelo que faleceu. Na idade de 7 a 12 anos, os filhos entendem bem o significado da morte, e é um fato que não deve ocultar ou maquiar ou dar falsas expectativas que não se cumpriram, tal como “foi de viagem”. Não se pode privar um filho dessa experiência, que o fará alcançar maior grau de maturidade. A dor sempre vai estar presente, pois nunca se espera ficar viúvo ou órfão. Porém, quanto antes aceitar esse fato, melhor.
2 – Não ancorar-se no passado
É normal que figura da pessoa que partiu tenha sua presença na família, mas não se deve ficar ancorado no passado. Seria errôneo idolatrar a figura que passou a faltar, enchendo a casa de fotos e mencionando-a em tudo e para tudo, porque se estaria educando com base em algo que já não pode incidir objetivamente nas vidas: “se teu pai estivesse aqui…”, e não se sabe bem o que se quer conseguir com isso, ou para onde conduzirá tal atitude. Algo diferente é recordar o dia da morte, ir ao cemitério, lembrar-se do dia do aniversário, pois o falecimento é um fato objetivo e introduzido na vida da família.
3 – É possível educar quando se é só?
Com a partida definitiva de um dos cônjuges fica uma incerteza: se antes a responsabilidade das decisões era compartilhada, agora é preciso decidir solitariamente, sem poder partilhar acerca do êxito ou fracasso de uma decisão tomada. Por isso, é preciso conversar com pessoas de critério, amigos experientes e sensatos, orientadores familiares, ler livros e artigos sobre a educação dos filhos, tendo sempre presente que educação dos filhos é um motivo muito importante para se agarrar e lutar, e não cair na nostalgia de uma ausência.
4 – O que afeta a ausência de um dos pais
Quando um adolescente perde um dos pais, o primeiro que afetará é a consciência de segurança. Também será prejudicada a facilidade de aprender, pois esta tem muito a ver com a estabilidade de ânimo. O desenvolvimento dos filhos necessita de um entorno básico que dê pontos de apoio e segurança, que o faça abrir-se para o mundo: se a morte do pai ou da mãe é visto como tragédia, acabará repercutindo nos estudos, nas amizades, no caráter.
Em algumas ocasiões, sobretudo no princípio da separação, poderá existir a tentação de recluir-se, esconder-se e não se relacionar. As primeiras festas de Natal sem o outro são muito dolorosas. No entanto, para o bem dos filhos, é preciso sobrepor-se e favorecer que cresçam em um ambiente rico em ralações: os avós, os primos, tios, amigos. A relação com os familiares é fundamental, pois esse entorno continuará proporcionando segurança. Em especial, é preciso continuar estreitando os laços com a família daquele que partiu.
O mesmo ocorre nos assuntos escolares: ao se convocar os pais para uma reunião, é bom que os filhos notem que continuam importando para o seu pai ou mãe, que oculta a sua dor e vai à reunião. Não cair na obsessão de buscar um substituto. O que, sim, se deve buscar é a naturalidade de seguir com o que fazia antes: praticar esporte e participar das mesmas atividades de antes com seus companheiros, ir passear, etc.
O pai ou a mãe que permaneceu terá que compaginar duas realidades: carinho e firmeza ou autoridade de pai com a ternura de mãe. Isso é um desafio, mas se consegue com o decorrer do tempo. Alguns especialistas dizem que pode ocorrer a tendência, especialmente da mãe, de se superprotetora dos filhos, protegendo-os demais e inibindo sua vontade ou capacidade de reação. Por isso, é preciso fazer os filhos crescerem em autonomia, deixando-os participar de atividades no colégio, esportes…
A não ser que o filho seja bastante maduro e responsável, e tenha idade adequada (ao redor dos 20 anos), é preciso evitar que caia abusivamente sobre os filhos menores as responsabilidades daquele familiar que passou a faltar. Uma coisa é apoiar-se nos filhos e fomentar a responsabilidade deles, outra é fazer que saltem ou percam a etapa da infância, principalmente se for menina.
5 – Educar com realismo e ajudar a que os filhos pensem nos demais
Em resumo, é necessário abrir-se à esperança. Apesar da situação dolorosa de uma morte, é possível seguir adiante. Realismo e relações que ajudem amadurecer, como a de desenvolver o espírito de serviço e de ajuda solidária para com as pessoas que sofrem a carência de bens materiais ou espirituais, são os dois pilares para a educação dos filhos diante da ausência definitiva de um dos pais. A morte de um dos pais não deve se converter em um tabu: as crianças de 7 a 12 anos devem poder falar disso com seus amigos de maneira natural. Em algumas ocasiões, os filhos se sentem envergonhados da situação, como se tivessem culpa. A nova situação deve ser enfrentada com realismo. A partir dos 8 ou 9 anos, filhos e filhas entendem o que é a morte. É preciso contar a verdade: câncer, acidente… E sobretudo alertar sobre as dificuldades que irão passar a partir desse momento, mas que os ajudará crescer em maturidade, fortaleza, espírito de serviço e maior união com os que permanecem.
Uma mãe ou um pai não pode ser substituído por nada. Simplesmente é preciso atuar a partir desse fato. Por isso, evitar cair na tentação de prodigalizar presentes ou objetos na tentativa de preencher esse vazio. Se antes, a educação era compartilhada, agora é preciso buscar novos pontos de referência para avaliar o acerto ou não das decisões educativas. Como já foi dito, ler livros sobre educação, perguntar a bons amigos, participar de associações de pais ou mães que educam sozinhos porque estes podem compreender melhor a situação.
Texto traduzido e adaptado por Ari Esteves, com base no artigo ”Padres viuvos. Educar cuando se esta solo”, de Ricardo Regidor e Mercedes Tajada, Revista Hacer Familia, n. 71, Madri, España.
Gostou deste Boletim?
Se puder contribuir com nosso trabalho, envie sua contribuição para o PIX:
ariesteves.pedagogo@gmail.com

Chave Pix copiada!