1 – O que é o namoro. 2 – A formação pessoal para o namoro. 3 – Caminhos errados durante o namoro. 4 – A escolha da pessoa certa. 5 – Namoro das filhas na adolescência. 6 – Na adolescência as energias sentimentais são imaturas.

1 – O que é o namoro

     Antes de abordar o tema da precocidade do relacionamento sentimental entre adolescentes, procuremos compreender que o namoro não é um passatempo, mas uma fase necessária para que haja um tempo de discernimento e conhecimento mútuo entre aqueles que tenham como projeto de vida o casamento; é tempo para confirmar se se poderá conviver com a outra pessoa até o final da vida, se ambos concordam no que é fundamental para uma vida em comum…

     O namoro bem vivido é o caminho mais adequado para um bom casamento. Por isso, não será estranho ao longo do namoro perceber que o outro não é a pessoa adequada para empreender a aventura do casamento, pois “Viver juntos é uma arte, um caminho paciente, bonito e fascinante. Ele não termina quando vos conquistastes um ao outro… Pelo contrário, é precisamente neste momento que ele tem início! Este caminho de cada dia possui regras que podem ser resumidas naquelas três palavras…: com licença, ou seja, «posso», obrigado e perdão. (Mensagem Papa Francisco aos noivos, 12-06-2021).

2 – A formação pessoal para o namoro

     O amor é um tripé que se apoia no sentimento que há entre um homem e uma mulher, na compreensão da inteligência sobre o que é um verdadeiro amor, e no fortalecimento da vontade para que se formem convicções que farão crescer esse amor cada vez mais, mesmo em circunstâncias contrárias. Quando se apoia apenas na volubilidade dos sentimentos, com o passar do tempo a relação pode sofrer desgastes ao surgirem as inevitáveis dores, privações e sacrifícios.

     Os namorados devem alimentar o amor com a leitura de boas obras que tratam do afeto humano, do que é o casamento e o que diz a Sagrada Escritura acerca dele; devem alimentar a inteligência com boa doutrina para não se apoiar em argumentos sentimentais, que podem se alterar ao longo do tempo; necessitam aprender a admirar a beleza contida nas diferentes artes, a fim de desenvolverem a sensibilidade estética para tornar mais delicado o trato mútuo: o gosto pela literatura, música, pintura e bons filmes eleva o espírito e promove planos descanso que enriquecem o espírito. Mais do que ir ao cinema por falta de opção, une e enriquece mais o espírito dos namorados irem a uma exposição ou museu de arte, um passeio descontraído pelo parque e uma boa conversa.

     Há várias virtudes que devem crescer durante o namoro, pois elas serão a base sobre a qual se sustentará o casamento: generosidade para saber renunciar os planos pessoais e fazer o gosto do outro; delicadeza no trato; bom humor para rir do que saiu errado; sobriedade para desfrutar das coisas com justa medidas, e evitar planos onerosos porque se compreendeu que há mais amor em um pequeno presente, por conhecimento do gosto da outra pessoa, do que um gasto excessivo em algo que agradaria a qualquer um; o bom uso do tempo livre para planejar e enriquecer as horas que passarão juntos: para onde ir, com quem estarão, o que farão?

3 – Caminhos errados durante o namoro

     O amor cresce com o respeito mútuo, que é tratar o outro como uma pessoa, e não como objeto para a satisfação pessoal. Alcança-se o amor verdadeiro quando se respeita a dignidade da outra parte, evitando manifestações afetivas impróprias do namoro, pois isso destrói a personalidade. Se realmente se ama uma pessoa, se faz todo o possível para respeitá-la. O namoro supõe um compromisso que inclui a ajuda ao outro para ser melhor.

     O período do namoro é um tempo para ser vivido na castidade dos gestos e das palavras, na solicitude e domínio de si para respeitar a outra pessoa, a fim de que ambos se possam olhar-se nos olhos sem constrangimentos ou vergonha. O verdadeiro amor não busca a própria satisfação, pois a dignidade humana não comporta solicitar da outra pessoa o que ela não deve dar, como são as manifestações afetivas de índole sexual próprias da vida matrimonial, e não do namoro.

     Sendo o namoro um período em que aqueles que se amam ainda não decidiram entregar-se um ao outro e para sempre no casamento, devem conduzir-se com delicadeza e respeito no trato mútuo, e apagar as primeiras faíscas da paixão que podem surgir e colocar a outra parte em circunstâncias limites. Ao perceber que uma manifestação afetiva poderá ultrapassar a fronteira de um comportamento correto, deve-se cortar para não entrar na esfera de um sentimentalismo egoísta. A virtude da temperança impregna de inteligência as paixões e os apetites da sensibilidade humana: o namoro como toda a escola de amor, deve estar inspirado não pela ânsia da posse, mas pelo espírito de entrega, de compreensão, de respeito, de delicadeza(Josemaria Escrivá, Questões atuais do cristianismo, n. 105).

4 – A escolha da pessoa certa

     Para os que foram chamados por Deus à vida conjugal, a felicidade humana depende, em grande parte, da escolha da pessoa com quem irá viver o resto da vida. O namoro é tempo para esse conhecimento, a fim de que ambos cheguem bem-preparados ao casamento. Quanto mais conhecer a outra pessoa durante o namoro, menor o risco de um casamento que venha desfazer-se por incompreensão mútua. O sentimentalismo não deve ser fundamento do namoro ou do casamento, pois impede perceber atitudes mais profundas que poderão conduzir a autoenganos sobre a outra pessoa, que revelará mais adiante comportamentos desagradáveis que poderão se converter em rupturas de relacionamento.

     A personalidade vai se formando ao longo do tempo, e espera-se da outra pessoa um nível de maturidade adequado à idade. Há parâmetros para distinguir os traços de imaturidade de uma pessoa: se toma decisões em função do estado de ânimo; se possui humor volúvel, sendo muito suscetível; se costuma submeter-se à opinião dos outros porque não tem uma própria; se não tolera frustrações e reage de forma passional; se tende a culpar os outros pelos seus fracassos; se tem reações caprichosas que não correspondem à idade; se é impaciente e não consegue renunciar aos seus desejos imediatos; se busca ser o centro das atenções; se sabe conversar sem inflamar-se quando as opiniões são opostas; se é capaz de distinguir o importante do secundário e ceder em detalhes sem importância; se reconhece os próprios erros quando é advertido; se sabe tolerar os defeitos dos outros e os ajuda a melhorar; se sabe pedir desculpas…

     Todos temos momentos de mau caráter, que se podem atenuar ao contar com a graça de Deus e a luta pessoal para vencer-se e fazer a vida mais agradável aos outros. No entanto, para garantir a convivência com o modo de ser de outra pessoa, é necessário que no namoro se chegue ao verdadeiro conhecimento da outra parte: seu caráter, crenças e convicções; seus sonhos e valores familiares que possui; opinião sobre o número de filhos e a educação que pretende dar; o que representará o seu trabalho profissional em relação à vida familiar…

     Convém distinguir o que na outra pessoa é uma opinião e o que é uma crença ou convicção, pois uma opinião é passível de mudança e uma crença ou convicção tem princípios mais arraigados e transformadores em consequência da tradição, da cultura e educação recebidas, dos valores que se nutriu ao longo do tempo. Por exemplo, diante da afirmação “penso que o casamento é para sempre”, é preciso saber se se trata de uma opinião ou de uma convicção, pois se for apenas uma opinião poderá sofrer alteração com o tempo. Seria ingênuo pensar que a outra pessoa mudará suas convicções ou crenças, sempre mais profundas, para se adaptar ao que a outra parte pensa, por exemplo, sobre a fidelidade matrimonial, número de filhos que deseja ter, se julga sua atividade profissional mais relevante que o dia a dia da vida familiar, como entende a sexualidade humana, entre outros parâmetros. Poderá ser prudente finalizar o namoro quando há discordância sobre temas importantes, a fim de que a ruptura não ocorra durante o casamento. Com frequência um dos cônjuges percebe que não conversou sobre questões vitais com o outro durante o namoro.

5 – Namoro das filhas na adolescência

     Como se pode perceber com o que foi dito até aqui, não há maturidade suficiente na adolescência para analisar a outra parte, tendo em vista que o namoro não está feito para passar o tempo, mas para conhecer o caráter, temperamento, ideais, virtudes e defeitos da outra parte, com a finalidade de constatar se será a pessoa certa para unir a vida em função de um projeto comum, que é o grande ideal de montar uma família e educar os filhos.

     A partir da puberdade, ou mesmo antes, as adolescentes se sentem fortemente atraídas pelos rapazes e surge nelas a vontade de agradá-los e de namorar. Essa é, então, a ocasião da mãe dizer à filha que ela é ainda muito jovem, e que as grandes forças do amor que ela sente estão para prepará-la para se tornar uma mulher mais adiante; e que Deus permite surgir nela forças de afeto, carinho e desvelo para que aprenda a dominá-las a fim de não ser subjugada por tais forças como uma boneca que passa de mão em mão. Liberar essas forças na adolescência, fará a jovem chegar ao casamento desgastada, cheia de vícios pelas tristes experiências acumuladas, e sentindo que lhe foi roubado o tempo mais propício para seu crescimento humano e espiritual.

6 – Na adolescência as energias sentimentais são imaturas

     Ficar uma adolescente empatada com um rapaz muito jovem, que ainda não sabe o quer da vida e pouco conhecimento tem de si mesmo, somado à volubilidade própria dessas idades (ele poderá facilmente trocar uma jovem por outra), impedirá que a adolescente siga adiante com projetos mais importantes nessa fase. Além disso, o risco de um namoro prolongado facilmente conduzirá a intimidades próprias de marido e esposa, com todas as consequências que decorrem de atos que não devem acontecer e para os quais ambos não estarão preparados.

     Não bastam os vigores instintivos ou sentimentais para acertar no amor. Só com o amadurecimento psicológico, onde a inteligência bem formada por meio do estudo e pela virtude da prudência, que avalia todos os aspectos da realidade e não apenas os de ordem sentimental, a vontade se verá fortalecida para seguir pelo caminho do amor verdadeiro e na busca de projetos valiosos.

     A mãe deve estimular a adolescente a se preparar não para o namoro, mas para crescer nas virtudes que irão direcionar seus sentimentos para apoiar o que é mais importante nessa fase da vida: descobrir suas qualidades e potencialidades com o fim de acertar na escolha da profissão com a qual melhor servirá aos demais; aproveitar bem o tempo para se preparar com afinco e enfrentar as duas fases do ENEM, que incluem várias disciplinas e uma concorrida prova de redação, e alcançar notas classificatórias que permitam entrar com folga em uma universidade pública. Se a adolescente for estimulada a ganhar o hábito de ler boa literatura, saberá conhecer melhor a si e aos demais, pois os bons escritores penetram com profundidade na alma humana e seus personagens fazem distinguir entre o bem e o mal; a leitura faz aprofundar o raciocínio e melhorar a força de expressão escrita e oral. A mãe precisa ajudar a sua filha adolescente crescer no amor a Deus, e se sentir sempre acompanhada por um Pai que nunca a abandonará.

     Não é preciso antecipar o tempo de namoro. A adolescente deve preparar-se e esperar que seu corpo e sua mente a transformem numa mulher adulta para, então, avaliar o que é um verdadeiro amor: um homem maduro e de princípios que a compreenderá e a respeitará, sendo capaz de abraçar os filhos que Deus lhes enviar, e de amá-la na saúde e na doença, e ser capaz de assumir financeiramente a família com sua profissão, principalmente nos períodos em que o casal tiver um novo filho, porque certamente a mulher terá que diminuir suas atividades profissionais, dada a dependência que o bebê tem de sua mãe.

     A eficácia de uma conversa entre mãe e filha está na amizade entre ambas, que deve ir crescendo ao lado da autoridade materna. Se a filha se acostumou desde criança a expor para a mãe tudo o que sente ou a preocupa, certamente a procurará confiadamente para saber como lidar com as novas circunstâncias da puberdade, e para conferir aquilo que ouve das colegas ou, pior, aquilo que as vê praticar. Se o diálogo é aberto e frequente, a filha compreenderá as desvantagens de um namoro precoce.

Texto adaptado por Ari Esteves com base no livro “Filhos: educação sexual”, de Francisco Sequeira, Editora Quadrante, São Paulo (SP), e artigos “O sentido do namoro”, de José María Contreras; “Namoro e casamento: como encontrar a pessoa certa?”, Juan Ignacio Bañares; “Namoro e vida cristã”, de Aníbal Cuevas, todos em www.opusdei.org/pt-br. Imagem de Ron Lach, adaptada.

O Autor

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