Ao homem não lhe basta conduzir-se simplesmente pelo natural e espontâneo de suas tendências, tal como os animais que lhes é suficiente seguir os instintos para que deem certo. Todos os homens carregam dentro de si a inclinação para o bem ou para o mal, inclusive as crianças. Ensina a Encíclica Veritatis Splendor, que o homem está entregue às suas próprias decisões, ao seu próprio cuidado e responsabilidade para chegar livremente à perfeição humana para a qual foi criado. Os atos humanos são morais porque exprimem e decidem a bondade ou malícia da pessoa que os realiza, pois representam escolhas deliberadas que produzem não apenas mudanças externas, mas configuram profundamente a fisionomia espiritual de quem os realiza.  

         Age-se moralmente bem quando se escolhe livremente o bem supremo ao qual o homem encontra sua perfeição e felicidade plena, que é o próprio Deus. Por isso, o agir humano não deve ser considerado bom só porque atingiu determinado objetivo, mas apenas quando se dirige livre e conscientemente a essa verdade.

         Todos trazemos impresso em nosso coração a chamada lei natural de fazer o bem e evitar o mal, e isso é perceptível pela razão natural. Essa lei não é formulada pela opinião pessoal, e não cabe a cada um alterá-la sem que ocorram graves consequências para si e para os demais: ela lei existe para constituir a moralidade dos atos humanos e ordenar racional e voluntariamente as ações em direção ao bem conhecido pela razão e necessário à natureza humana.

         Por meio de sua inteligência, o homem não possui o arbítrio ou autonomia de chamar bom o que é mau. Nunca serão atos moralmente bons roubar, matar, maltratar os pais, adulterar, caluniar, descuidar da família, etc. A dignidade humana exige que se distinga o bem do mal através da luz da consciência ou razão prática, a fim de agir não por impulsos cegos, opiniões falsas ou por coação externa. Nossas tendências ou inclinações não nos obrigam a agir mal, e se alguma vez nos inclinam a isso, é preciso ter a responsabilidade pessoal de dizer “não”. Somos livres para resistir ao mal, sendo isso facilitado pela aquisição de virtudes ou forças que incidem em nossa inteligência, vontade e afetos.

         Quem luta moralmente para não frustrar conscientemente o bem que deve escolher, a fim de não causar lesões ou fissuras em sua alma, saberá ensinar os filhos a não desfearem a perfeição a que estão chamados a ser. Sâmia Marsilli em seu artigo “Inclinados para o mal”, diz que se os pais pensam que os filhos devem agir sempre de maneira “natural”, sem necessidade de serem corrigidos, cometem o grave erro de acreditar que com o tempo essas tendências ou inclinações negativas desaparecerão sozinhas, e os filhos reconhecerão a necessidade de mudar para melhor, o que é um erro, pois criarão o mal hábito de ir ao mais fácil e prazenteiro, e descuidarão suas obrigações mais exigentes. As más inclinações têm um impacto forte, e ignorar o funcionamento delas dificulta a tarefa de educar os filhos nas virtudes.

         Todos nascem com boas e más inclinações, independente da inteligência ou capacidades, e não há bondade genuína sem luta para erradicar o que é mau na conduta. Deixar-se guiar pelas inclinações naturais desordenadas petrifica procedimentos inconvenientes, caso não sejam corrigidas com esforço. A correção começa com a aceitação e o reconhecimento de que são más e devem ser extirpadas da conduta. Ou seja: devem ser identificadas pelos seus verdadeiros nomes, e não justificadas: preguiça, inveja, soberba, desordens da sensualidade, gula, egoísmos… A sinceridade em reconhecê-las é o primeiro passo para modificá-las. Caso contrário, as más inclinações continuarão a prejudicar tanto a quem as pratica quanto aos demais com quem se convive no ambiente familiar, profissional ou social.

        Deixar-se guiar – a si ou aos filhos – pelas inclinações naturais desordenadas petrifica procedimentos inconvenientes, caso não sejam corrigidos com esforço. A correção começa com o reconhecimento sincero de que há comportamentos que devem ser extirpados, e não justificados com falsas desculpas ou razões sem razão, e chamados pelos seus verdadeiros nomes: preguiça, inveja, soberba, desordens da sensualidade, gula… A sinceridade em reconhecê-los é o primeiro passo para a melhora pessoal. Caso contrário, as más inclinações continuarão a prejudicar tanto a quem as pratica e quanto aos demais no ambiente familiar, profissional ou social.

         A responsabilidade de buscar a melhora pessoal cabe a cada pessoa. Identificar as más inclinações pessoais e lutar para não ser dominados por elas, é atuar com sabedoria e prudência. Os sete pecados capitais – soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça – são defeitos chaves e cabeças de muitos outros vícios, e estão dentro de nós como vírus que esperam a baixa imunidade do corpo para atuarem.

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