Marian Rojas, psiquiatra espanhola, orienta sobre os muitos perigos provenientes das telas digitais, pois muitos dos conteúdos são projetados para captarem a atenção e serem altamente viciantes. Vivemos uma época onde os estímulos das telas estão presentes em todos os espaços da nossa vida, tornando a tarefa de educar um desafio imenso. As crianças são as mais afetadas: hipnotizadas e incapazes de se desconectar, quando privadas das telas a reação não é apenas de birra, mas de um comportamento revelador de que algo mais profundo ocorre em seu cérebro. A afirmação de Steve Jobs, cofundador da Apple, de que nunca houve um iPad em sua casa e que não permitia que seus filhos o usassem, deveria alertar aos pais: se um criador de tecnologia não a quer para seus próprios filhos, é porque sabe como funcionam e o impacto que tem sobre cérebros em desenvolvimento.
O uso excessivo de telas não se trata de uma distração momentânea para distrai os filhos, já que lhes vem alterando profundamente o desenvolvimento cerebral. Desde o nascimento, o cérebro das crianças absorve tudo o que está ao seu redor, e por ser um órgão plástico, molda-se em função dos estímulos que recebe. Aqui reside o perigo: os estímulos artificiais como cores, sons, movimentos rápidos e infinidade de imagens em tempo reduzido, viciam o cérebro e criam desinteresse pela realidade do entorno. A superestimulação artificial das telas afeta o córtex pré-frontal do cérebro, responsável pela atenção, concentração, controle de impulsos e tomada de decisões, que passa a não se desenvolver adequadamente. Essa área cerebral é imatura em crianças, pois não possuem capacidade de controlar seus impulsos porque isso requer tempo. Ativar artificialmente o cérebro faz as crianças dependerem desses estímulos para se manterem atentas.
Acostumado a receber impulsos em nível exagerado – seja com games ou desenhos –, o cérebro libera dopamina, o hormônio do prazer, gerando um ciclo de gratificação imediata que ao desaparecer faz o faz reclamar por mais estímulos, já que ficou dependente deles para se sentir bem. Tal processo afeta a capacidade da criança para administrar frustrações, manter o esforço da concentração, controlar dos seus impulsos ou gerir suas emoções. Ou seja, será impossível que ela se concentre em tarefas que não ofereçam prazer imediato (aulas, atividades domésticas, por exemplo), pois seu cérebro aguarda a próxima recompensa das telas. Esses problemas não desaparecerão com o tempo. Se os pais não intervierem o quando antes, terão um adolescente, jovem ou adulto carregando esses transtornos.
Atualmente vemos uma geração que não sabe lidar com as dificuldades da vida real porque cresceu em um mundo onde tudo está a um clique de distância. Para evitar isso, seguem cinco estratégias acerca do gerenciamento sadio das telas. Não se trata de proibir a tecnologia, mas de ensinar as crianças a utilizá-la de forma consciente e equilibrada. Estas ações ajudarão a limitar o tempo das telas e fomentarão um saudável desenvolvimento emocional e cognitivo.
- Definir horários para o uso das telas: por exemplo, estabelecer que durante a semana não sejam utilizadas depois das 19h, e que não será permitido o uso delas durante as refeições. O segredo está na persistente dessas orientações, pois as crianças respondem melhor quando os limites são claros e repetidos. Isso as ensinará a aproveitar melhor o tempo e organizar o dia sem telas. As balizas ajudam a saber por onde seguir, fazem compreender que não se pode ficar conectado o tempo todo e ensinam a valorizar os momentos de vida em família ou dedicar-se a atividades sem tecnologias. Importante: que vejam a ausência de telas não como punição, mas como oportunidades para desfrutar de experiências reais como conversa à mesa, ida ao parque, ser paciente e apreciar recompensas não imediatas…
- Estabelecer horários em casa para que todos, inclusive os adultos, desliguem os aparelhos talvez por uma ou duas horas por dia, a fim de que a família se desconecte e se dedique a atividades reais como brincar, conversar, cozinhar, organizar, limpar, passear, jogos de mesa… Essas ações revelam às crianças o valor da convivência sem a interferência das telas. Reduzir a dependência dos eletrônicos é saudável não só para as crianças, mas também para os adultos, que devem dar exemplo, porque torna grato o ambiente familiar, com interações face a face que fortalecem os laços mútuos.
- O cérebro de uma criança precisa de estímulos diversos para se desenvolver corretamente e as telas não devem ser sua única fonte de entretenimento. O desenvolvimento integral necessita de interesses e habilidades fora do mundo digital. Ao limitar o tempo das telas abre-se espaço para que as crianças descubram a satisfação das atividades manuais conquistadas pelo esforço e criatividade: pintar e construir com blocos desenvolvem a capacidade de concentração e de resolução de problemas. A variedade de opções faz o cérebro desenvolver-se de forma equilibrada, reforçando competências.
- Ensinar as crianças a usar as telas de forma consciente e não automática ou por impulso. Em vez de passar horas navegando sem propósito, convidá-las a decidir sobre o que pretendem ver ou fazer antes de se conectar ao aparelho. Assim se promove o uso racional e controlado da tecnologia, em vez de ser atividade sem metas. Essa autorregulação torna as crianças mais críticas e seletivas sobre os conteúdos que consomem: se sabem que o tempo de uso das telas será limitado, selecionarão melhor os conteúdos ao invés de navegar sem rumo. Essa prática desenvolverá uma relação saudável com a tecnologia, tornando-a ferramenta útil e não um meio instantâneo de gratificação.
- Por não entender que o uso das telas afeta o cérebro (comportamento, desenvolvimento, humor, capacidade de concentração), é essencial explicar isso às crianças em linguagem acessível. Quanto mais conscientes estiverem sobre os efeitos das telas, mais fácil será para elas aceitarem as conversas sobre os limites para o seu uso.
Os pais devem reconhecer os momentos em que eles próprios utilizam excessivamente as telas, e enfrentar o desafio de mudar a atitude. Muitas vezes recorrem à tecnologia como fuga rápida para um momento de tranquilidade ou para manter as crianças entretidas. Parece compreensível essa fuga diante das responsabilidades e exigências constantes. Embora a curto prazo possa parecer uma ajuda, é preciso ter a consciência de que a médio prazo o uso da tecnologia gera um impacto negativo no desenvolvimento emocional e mental das crianças. É fácil cair na armadilha de pensar que um pouco mais de tempo de tela não fará dano algum. Porém, sem perceber, os pais tornam os filhos dependentes desses estímulos para encontrar satisfação, ao invés de desenvolver neles habilidades internas como paciência, tolerância à frustração, a capacidade de concentração em tarefas que não oferecem gratificação imediata… Em momentos de cansaço, pensar que as telas não são a solução, e que para construir algo maior, os filhos precisam aprender a administrar suas emoções e entender que nem tudo na vida surge rapidamente e sem esforço. Os limites são saudáveis e ensinam a usar as telas de forma consciente e responsável, sem que se tornem ferramenta de fuga ou dependência.
O mais valioso que os pais podem ofertar aos filhos não é a tecnologia mais recente ou o acesso ilimitado às telas, mas dar-lhes o próprio tempo, atenção, orientação e amor. Propor atividades alternativas revelam às crianças que podem se divertir sem necessidade de telas, e que o relacionamento cara a cara é mais importante que os digitais para o crescimento humano e intelectual e para gerir as próprias emoções e se tornarem mais resilientes para as boas conquistas, que exigem tempo e paciência.
Em um mundo que busca soluções rápidas e gratificações imediatas, pensar que cada pequeno esforço para se desconectar das telas e permanecer no mundo real é passo seguro em direção a uma vida saudável e equilibrada para si e para os filhos, porque fomenta a capacidade de enfrentar os desafios da vida, administrar emoções e se relacionar de forma profunda e autêntica. Embora nem sempre seja fácil tal conquista, cada limite estabelecido, cada atividade fora das telas, cada conversa com as crianças sobre o uso das tecnologias, contribuirão para o seu bem-estar emocional e espiritual e se refletirão no adolescente e no jovem equilibrado e resiliente de amanhã. Esses são os atos de amor que os filhos necessitam.
Texto adaptado e produzido com base no vídeo “El peligro oculto de las pantallas: 5 Claves para Proteger a Tus Hijos, da psiquiatra espanhola Marian Rojas. Vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Drb5DecL67I
Em nosso site os boletins estão organizados também por assunto, com link para cada título: ver página
Gostou deste Boletim?
Se puder contribuir com nosso trabalho, envie sua contribuição para o PIX:
ariesteves.pedagogo@gmail.com

Chave Pix copiada!