A aparência corporal é buscada na sociedade atual como sinônimo de bem-aventurança. O corpo se tornou protagonista principal da bem-aventurança: a beleza física, a saúde e a plenitude corpórea obtida com exercícios regulares, o prazer dos sentidos, a comodidade, o relaxamento, o conforto e o bem-estar do corpo fazem crescer demasiadamente o sistema físico e atrofiar o valor do desenvolvimento psicológico na busca da felicidade, ensina Fernando Sarráis, psiquiatra1.
A falta de desenvolvimento psicológico aumentou no Ocidente, o que fez crescer o número de pessoas imaturas (neuróticas, em linguagem técnica), propensas a sofrer de enfermidades mentais, a ter mais conflitos no âmbito familiar, profissional e social, e a sofrer com vícios motivados pela busca de maior prazer, sempre confundindo isso com a busca da felicidade.
O número de pessoas imaturas vem aumentando, pois a demanda pelo desenvolvimento corporal, as horas gastas para melhorar o visual a ser postado nas redes sociais, a falta de outros valores buscados nas boas obras literárias e religiosas, fizeram diminuir o número de pessoas com a formação adequada para incentivarem crianças, adolescentes e jovens a seguir por caminhos seguros e verdadeiros.
À medida que cresce o número de indivíduos obcecados pelo desenvolvimento corporal perfeito, aumenta o descuido pelo equilíbrio interior devido ao enfraquecimento de duas habilidades importantes para o ser humano: a capacidade de introspecção e o domínio das funções psíquicas (percepção, imaginação, memória, pensamento e afetividade).
A capacidade de introspecção é a habilidade de entrar em si para avaliar os estados interiores, identificar o que é necessário para construir uma personalidade rica e sadia e não ficar à mercê da opinião alheia. Já o domínio das funções psíquicas revela-se na capacidade de não depender dos estados de ânimo (sentimentos, emoções e paixões) para agir, mas sim motivados pela clareza da inteligência e determinação da vontade.
A sociedade atual exagera a importância do êxito exterior: status social, poder, fama e riqueza material independentemente de como foi obtida, porque entende que a felicidade vem de fora, dos resultados que se obtém no mundo exterior, de quantos likes somou nas redes sociais. Com isso, sabe-se o modo de se vestir, o look do penteado, o que comer ou como se divertir, que esporte praticar, mas cega-se para o encontro com a felicidade que está em servir, em dar amor aos demais, quais as características psicológicas são necessárias para desenvolver uma personalidade rica.
A beleza exterior resolve-se facilmente com um bom penteado, roupa, perfume e pouco mais, sendo fácil avaliá-la. Porém, a beleza interior, por ser mais valiosa, exige um pouco mais de empenho, mas oferece muito mais: torna a pessoa resiliente diante dos obstáculos, dá força para ser fiel aos compromissos, não troca sua honradez por ganhos fáceis, ama o bem e a verdade assumidos em valores ou modelos perenes da conduta, não se deixa influenciar pela opinião dos demais nas redes sociais (mal que tem levado adolescentes mulheres a estados depressivos e de ansiedade).
Nota-se atualmente que pais e professores fomentam motivações externas ao exigir apenas que as crianças se destaquem socialmente nas boas notas escolares, dominem outro idioma, sejam esportistas de elite e se encaminhem para uma carreira que dê muito dinheiro. Seria mais sábio que as ajudassem a superar medos, vergonhas, timidezes, hipersensibilidades emocionais, condutas egoístas voltadas apenas ao que gostam e não ao que devem fazer. Por mais que tenham bom desempenho nos aspectos externos, se não tiverem valores interiores se tornarão dependentes, inconstantes, manipuláveis pelos meios de comunicação, imaturas frente às dificuldades da vida, ansiosas, incapacitadas para controlar emoções negativas (ódio, raiva, ira, preguiças, gula, inveja, ciúme) e desajustadas para trabalhos em equipe e a convivência social.
Muitos adolescentes sabem o que querem ser ao crescer, mas não têm ideia de como gostariam de ser do ponto de vista de caráter e personalidade, pois desconhecem valores a assumir, já que seus educadores não os fizeram compreender a importância da beleza interior por meio das virtudes para obter a verdadeira felicidade.
A maturidade psicológica consiste em obter equilíbrio entre inteligência, vontade e afetividade. Os sentimentos, emoções e paixões são aspectos irracionais da afetividade que devem submeter-se à inteligência e vontade para que haja harmonia nas ações humanas, tal como na orquestra os instrumentos obedecem à mente do maestro. Por isso, é necessário priorizar a formação da inteligência para que seja esclarecida com a verdade acerca de temas importantes, e educar a vontade para ter autodomínio sobre os impulsos da afetividade (comer, beber, dormir, descansar, desfrutar, sentir…). A educação da inteligência e da vontade deve começar desde a infância, a fim de que não arraiguem vícios difíceis de tirar na adolescência e juventude. Quanto maio for a força de vontade, mais liberdade terá a pessoa para não ser impulsionada exclusivamente pelo motor afetivo (sentimentos, emoções, estados de ânimo). A disciplina dos sentidos e dos sentimentos se faz por meio das virtudes ou hábitos contrários às desordens que por vezes ocorrem. Muitos vícios e transtornos comportamentais em crianças, adolescentes e jovens estão relacionados ao domínio da afetividade sobre a razão.
1Texto elaborado por Ari Esteves, inspirado na obra “Maturidade psicológica e felicidade – A educação da afetividade”, de Fernando Sarráis, Editora Cultor de Livros, São Paulo, 2020. Imagem obtida por inteligência artificial (ChatGPT).
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