A criança não precisa apenas de comida, roupa e abrigo, mas de um ambiente emocionalmente seguro onde possa explorar o mundo, cometer erros, aprender a lidar com a frustração, ter confiança ao sentir que suas emoções são validadas e respeitadas. O cérebro dela se desenvolverá emocionalmente saudável se a ela crescer em lar repleto de amor, limites claros, segurança. Porém, se vive em meio a gritos, falta de conexão emocional, estresse, manifestará baixa autoestima, ansiedade, medos, inseguranças e terá dificuldades para gerenciar suas emoções e lidar com a frustração.
Cinco erros comuns que os pais podem cometer e que afetam negativamente o emocional e o cognitivo da criança, são relatados por Marian Rojas1, psiquiatra espanhola:
1)-Ouvir pela metade
A criança que se sente ouvida, respeitada e compreendida, constrói conexões neurais que promovem sua regulação emocional e bem-estar. Ao não ser ouvida ativamente; se suas emoções e sentimentos não são validados, mas ignorados ou minimizados, perde a segurança e a capacidade de se expressar e de se conectar com os outros, isolando-se ao evitar relacionamentos. Pais atentos a outros interesses faz a criança se sentir invisível e afetada em sua autoestima, segurança emocional e na confiança em seus pais. A escuta não ativa cria um vazio emocional e a criança não expressará seus pensamentos, sentimentos e emoções, desregulando emocionalmente seu cérebro, dificultando-o para lidar com a frustração, tristeza e ansiedade. Já a escuta ativa que se faz com os olhos nos olhos e total atenção para penetrar no mundo da criança, e entender também o que não foi dito, envia a mensagem de que as emoções e os pensamentos do filho são valiosos, fortalecendo a capacidade dele para se comunicar, regular suas emoções e se sentir seguro em um mundo por vezes caótico, além de desenvolver fortes conexões neurais.
2) A superproteção
A superproteção é um erro que os pais cometem com a intenção de evitar ao filho a dor, o fracasso e a frustração. Porém, não percebem que cerceiam a capacidade de resiliência do filho para enfrentar a vida. O cérebro da criança amadurece emocionalmente ao lidar na prática com a frustração e os erros. A superproteção impede vivenciar experiências negativas e fomenta a insegurança para enfrentar dificuldades, tonando a criança dependente, medrosa e ansiosa ao lidar com desafios, pois seu cérebro não desenvolverá conexões de autorregulação emocional, e terá dificuldades para lidar com os altos e baixos da vida. A resiliência ou capacidade de se levantar após um insucesso não é algo que se aprende na teoria, mas na prática. Permitir que o filho enfrente pequenos contratempos e vivencie frustrações o fará saber como administrá-las. Criança que enfrenta e supera desafios se fortalece e se torna emocionalmente equilibrada. O papel dos pais não é absorver eles as contrariedades do filho, mas ensinar a lidar com elas e ser apoio quando a criança sentir necessidade de conforto ou conselho, a fim de ensiná-la a confiar em suas próprias habilidades e crescer em autoestima.
3) A crítica destrutiva
A crítica negativa impacta profundamente o cérebro da criança, pois a fará interpretar as palavras como ameaça à autoestima, incapacidade de aprender com os erros e terá vergonha e medo de fracassar. A criança associará sua identidade aos julgamentos negativos e criará conexões cerebrais que associam o fracasso à humilhação, à perda de autoconfiança em si, à baixa autoestima, à ansiedade e ao medo de rejeição, caldo propício para o estresse e depressão. A correção construtiva foca naquilo que a criança pode melhorar, e não no que faz mal, o que permite que o errado se transforme em oportunidade de melhora, sem julgar o valor da criança como pessoa. Ao elogiar os esforços, o cérebro da criança associará os erros ao aprendizado, e não ao fracasso, fazendo-a crescer emocionalmente. Em vez de criticar, dizer com empatia: –”Eu entendo que você ficou triste, mas tente novamente”, ou –“O que você fez poderá ficar ainda melhor”. Esse tipo de correção positiva reforça a confiança e fortalece a capacidade da criança lidar com suas emoções e as situações mais difíceis, pois saberá que cometer erros é apenas parte do processo de crescimento, não um motivo para se sentir mal.
4) Falta de limites claros
As crianças precisam conhecer seu espaço e saber o que é permitido e o que não o é, para que seu cérebro se estruture com segurança ao agir (tal como as faixas e guard-rail nas estradas). Quando a criança desconhece o que se espera dela, se sente insegura e seu cérebro não desenvolverá conexões de confiança. Sem limites claros, a criança passa a não compreender as consequências de suas ações, e afetará sua capacidade de respeitar os outros. Os limites firmam a criança no comportamento certo, regulam suas emoções, faz entender que suas ações têm consequências positivas ou negativas sobre os demais, ajuda a tomar decisões responsáveis e ensina a lidar com a frustração ao não poder fazer tudo o que quer. A falta de limites, ao contrário, cria ocasião para manipular as situações a seu favor, enfraquecendo a capacidade de coexistir de forma respeitosa e harmônica com os demais. Estabelecer limites claros não significa ser rígido ou autoritário, mas ser consistente e justo e fazer a criança entender que uma regra é estabelecida para o seu bem e segurança emocional. Assim, seu cérebro aceitará as regras como parte natural do aprendizado para a vida e se desenvolverá de forma saudável.
5) Pais que não cuidam de si mesmos
Não cuidar de si mesmos é um erro que os pais podem cometer ao colocar as necessidades dos filhos acima do bem do casal. Pais que não se cuidam afetam a própria saúde emocional para administrar suas emoções diante dos conflitos e, impacientes, deixam de oferecer orientação equilibrada. Esse estresse afeta emocionalmente o filho, ao ver seus pais ansiosos, sobrecarregados e emocionalmente esgotados. Os pais precisam encontrar tempo para cuidar de si mesmos, estabelecer limites às suas próprias demandas e pedir ajuda quando necessário. Não ver nisso egoísmo, mas necessidade para retornar às suas responsabilidades revigorados. O cuidado dos pais deve ser preocupação do filho, que precisa reconhecer que o bem-estar emocional deles é importante para todos.
Conclusão
Não existe um manual de instruções para ser pai e mãe ideais, mas se forem exemplos de autorreflexão, honestidade emocional e responsabilidade, os filhos aprenderão mais com o que veem do que com o que ouvem. A paternidade não é um caminho fácil, e frequentemente os pais se deparam com dúvidas sobre como agir corretamente. Porém, o mais importante não é que sejam perfeitos, mas que procurem se formar bem como pais, lutem para agir bem e estejam cientes de que suas ações afetam o filho. Ao reconhecer seus erros e dar os passos para melhorar, os pais constroem relacionamentos fortes e saudáveis com o filho.
Texto traduzido e resumido por Ari Esteves, com base no áudio “5 errores de la crianza que nunca deverías cometer”, de Marian Rojas Estapé, médica psiquiatra pela Universidade de Navarra, Espanha, e fundadora do Instituto Rojas Estapé: https://www.youtube.com/watch?v=o0l2ghn5mK0. Imagem: Chat GPT
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