Desejar que os filhos sejam virtuosos, sem lhes oferecer para isso um motivo profundo, é edificar sobre areia. Que motivo dar a eles para que sejam honestos, sinceros, fiéis, solidários, castos, ordenados, responsáveis? Basear o esforço por ser melhor apenas em argumentos psicológicos ou em preceitos humanos, faz carecer de força e garantia de perpetuidade a vida moral, pois os homens mudam facilmente de opinião e tendem a seguir seus gostos e preferências. Aguiló chama de “psicologismo ascético” a tendência de reduzir a vida espiritual e moral a explicações puramente psicológicas. Não se trata de desmerecer a psicologia, mas esta não substitui a dimensão transcendental e sobrenatural da vida humana. “Por que o caminho espiritual é tão importante? Por que na vida as coisas não acontecem segundo nossas previsões. Por que aqueles que amamos morrem. Por que as decepções são dolorosas”, diz Leonardo Sax. Os filhos serão fortes e atravessarão “a noite escura da alma” se lhes foi ensinado a cultivar a vida interior e o trato com Deus.
A necessidade de voltar o olhar para Deus e nEle fundamentar as atitudes humanas vem pautando a vida de muitas pessoas como antídoto ao individualismo e à falta de grandes ideais. A crença em Deus e na vida após a morte torna as pessoas mais resilientes e motivadas para lutar contra os próprios defeitos. Muitos adolescentes e jovens desistem do esforço para ter uma vida reta e virtuosa porque suas convicções morais são insuficientes e os modelos de conduta oferecidos são insuficinetes e mutáveis, não aportando razões transcendentes para mover a conduta. Pais que acreditam em Deus, mas não levam a sério sua fé e não a transmitem com a palavra e exemplo aos filhos, se darão conta desse erro tarde demais, e com amargura. O maior bem que os pais podem transmitir aos filhos é a fé e o amor a Deus
Há quem acredita que os problemas espirituais e morais têm uma causa psicológica, e confundem a fé com estados emocionais e interpretam a vida espiritual apenas como um “bem-estar psicológico”. A psicologia como ciência é importante para compreender as pessoas e auxiliá-las em certas dificuldades. Contudo, a psicologia não serve como explicação totalizante do ser humano, pois a vida espiritual não se reduz a processos psíquicos, mas envolve a relação pessoal com Deus, realidades que vão além do campo psicológico: a oração, a realidade do pecado, a força da graça de Deus…
Quando o psicologismo domina, a fé se transforma em mera técnica de equilíbrio emocional, enfraquecendo a vida espiritual fundamentada no amor a Deus e no seguimento de Cristo. Portando, psicologia e vida espiritual devem se complementar: a psicologia ajuda a remover certos obstáculos humanos; e a vida espiritual e religiosa motiva a caminhar tendo em vista o sentido último da existência humana, que não se encerra nesta vida.
É possível encontrar pessoas de grande retidão moral que não creem em Deus, ou se deparar com doutrinas éticas que excluem a fé. Porém, nenhuma razão que exclui a Deus e a religião, serve para fundamentar a luta própria e a dos filhos na busca das virtudes: uma ética sem Deus, baseada apenas no consenso social ou em tradições culturais, não oferece garantia diante da patente debilidade do homem, sua capacidade de ser manipulado e de desistir facilmente diante do esforço exigido para manter-se ético.
Há ocasiões em que os motivos de conveniência natural para agir bem impulsionam com grande força. Mas há ocasiões em que esses motivos perdem força, e então o suporte para a ação correta ou a busca do bem encontra-se nos motivos sobrenaturais: prescindir tanto dos motivos naturais como dos sobrenaturais é erro moral e educativo de grandes proporções.
A referência a Deus serve não só para justificar a existência de normas perenes de conduta, que devem ser observadas. Quando se prescinde voluntariamente de Deus, é fácil que o homem se converta na única instância que decide sobre o que é bom ou mal em função de seus próprios interesses: por que ser fiel ao outro cônjuge?; por que não aceitar um suborno que vem de modo tão fácil?; por que dizer a verdade? Quem não aceita a existência do Ser superior que julga nossas ações, fica indefeso frente a tentação de se erigir como juiz supremo do bem e do mal. Isso não significa que aquele que tem fé haja sempre com retidão e nunca se engana, mas sabe que não está só e qual é qual é o caminho para retornar com humildade. Assim, está menos exposto a enganar-se a si mesmo ao dizer que é bom o que gosta e mau o que não gosta, pois sabe que tem dentro de si há uma voz que o adverte: – Basta, não siga por esse caminho!
É imprescindível fundamentar em Deus e na existência de vida após a morte, o esforço pessoal e o dos filhos para a aquisição de hábitos que encaminhem até o bem. Sem Deus é fácil duvidar se vale a pena o esforço por adquirir virtudes, porque não se tem motivos suficientes para manter condutas que supõem sacrifícios! Negar a existência de um juízo pessoal e a vida após a morte, reduz a perspectiva humana ao que se consegue lucrar apenas nesta vida: carpe diem ou aproveite o dia, pois não haverá razões suficientes para manter o esforço que exige uma vida reta. Evidentemente, a existência de Deus é objetiva e de infinitas consequências, e não se reduz a proporcionar motivos de garantia acerca de leis morais permanentes e imutáveis, mas é razão suficiente para mover as pessoas a conhecê-las e a observá-las. O progresso interior ou espiritual sempre será difícil, pois requer a assimilação teórica e o emprego prático daquilo que se acredita, pois não basta saber o que é bom, mas é necessário fazer o bem, caso contrário não haverá melhora pessoal, mas um simples ilustrar-se teoricamente sobre o que é o bem.
Texto adaptado por Ari Esteves, com base no artigo “Psicologismo y vida interior” de Alfonso Aguiló, publicado na Revista Palabra, 512-513, em agosto e setembro de 2006, e no livro “Garotos à deriva, garotas no limite”, de Leonardo Sax, Editora Quadrante, São Paulo (SP), 2006.
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