1 – Não substituir os filhos naquilo que eles podem fazer. 2 – Pôr um fim à obsessão protetiva. 3 – O reinado dos filhos superprotegidos. 4 – Não quero que meu filho passe pelo que passei. 5 – A superproteção cerceia a autonomia da criança. 6 – Atribuir encargos às crianças fomenta autonomia

1 – Não substituir os filhos naquilo que eles podem fazer

         Há pais e mães inseguros em tornar seus filhos independentes, e acabam substituindo-os em tudo o que estes deveriam fazer sozinhos. São genitores muitas vezes conscientes de que a superproteção é um mal que cerceia a liberdade e despersonaliza os filhos, mas não conseguem se libertar dessa ânsia protetiva porque seus sentimentos gritam mais fortemente que a razão e impedem de se verem livres desse exagerado agasalhar.

         Os filhos não são propriedades dos pais, que devem prepará-los para o mundo, e não para se aninharem sob as asas paternais ou maternais. A criança tem que aprender a ser guerreira, e para isso, é preciso ir soltando a linha para ela subir mais alto! Há mães carentes que esticam o período de baby de um garoto de dez anos, e não o preparam nem para ir ao supermercado da esquina, tomar ônibus para ir à escola no bairro vizinho, caminhar até o parque, jogar bola no clube do bairro. A desculpa para tal comportamento é que poderão ser assaltados, e com isso acorrentam os filhos em permanente infância, agarrados às suas saias, mas não livres dos perigos ainda mais cruéis que o uso sem controle da internet via celulares e tabletes vêm acarretando para o psicológico e à educação dos afetos de crianças e adolescentes.

2 – Pôr um fim à obsessão protetiva

         Para libertar-se da obsessão protetiva os pais necessitam pensar seriamente nas consequências negativas de viver poupando os filhos dos esforços e sacrifícios que deveriam realizar. Alguns dos efeitos negativos da superproteção são os seguintes:

  • Os filhos perdem a autonomia e a capacidade de resolver as coisas por conta própria, e se tornam emocionalmente fracos e dependentes;
  • Ficam egoístas, centrados em si mesmos e cada vez mais exigentes e ciosos de serem cuidados por todos como um direito que lhes pertencem;
  • Acomodam-se passivamente na postura de esperar que os pais sempre decidam por eles;
  • Tornam-se introvertidos, com vergonha de se expor e com medo de arriscar porque não estão habituados a pensar e agir por conta própria;
  • Ficam moles, passivos, chorões e queixosos diante de qualquer incomodidade ou tarefa que lhes custe esforço realizar;
  • Tornam-se inábeis para o convívio social e passam a ser subservientes de amigos mais lançados e decididos;
  • Convertem-se em mal-agradecidos porque em seu emocional julgam normal toda a atenção que se dá a eles, como príncipes em sua corte;
  • Se tornam fortes candidatos ao TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), porque ao fazer apenas o que gostam – se não gostar os pais agem por eles – são vítimas dos estados de ânimo que os faz mudar constantemente de atividade.

3 – O reinado dos filhos superprotegidos

         Acostumada a fazer a vontade dos filhos em tudo, a mãe fraca tem medo de corrigir e diz: − Ele joga as coisas e bate em mim, mas com o tempo irá melhorar. Ou − Puxa, por que você fez isso pra mamãe? São frases de mães superprotetores que, desconcertadas, pretendem educar na “peninha”, na compaixão pela mamãe (filhos até cinco anos não percebem o que é compaixão). A mãe age assim porque não tem coragem de dizer com firmeza o que deve ser dito, e acredita que se pode educar na “peninha da mamãe”. A criança entende uma argumentação firme, clara, segura e respeitosa: − Você não devia ter feito isso; agora vá pegar a vassoura e limpe o chão. Ou, Filho, não faça mais isso; se ocorrer de novo ficará toda manhã sem sua bicicleta. A criança entende uma indicação do tipo “não suje porque terá que limpar” e não algo sentimental como: − Ah, não faça isso pra mamãe. Mandar é diferente de pedir. A mãe submissa não comanda o filho porque diz: − Arrume sua cama pra mamãe, vai! (evitou dizer o momento em que deveria fazer). A criança precisa de comandos delicados, mas firmes: − Julinho, arrume sua cama agora.

4 – Não quero que meu filho passe pelo que passei

         Há pais que passaram por dificuldades na infância e não desejam que seus filhos tenham tais experiências, poupando-os de qualquer sofrimento. É uma boa preocupação desejar que os filhos não provem certas situações como separação dos pais, falta de carinho, violências domésticas, autoritarismos ou permissivíssimos, falta de atenção, etc. Porém, há dificuldades necessárias e educativas que fortalecerem o caráter e a vontade: cumprir encargos familiares, resolver sozinhos seus problemas na escola, não ter tudo de bate-pronto, não criar falsas necessidades, andar curto de dinheiro para não acostumar-se com caprichos…

         A tolerância à frustração também é um aspecto relevante a ser desenvolvido na criança, pois a levará a não desmoronar diante dos pequenos e inevitáveis fracassos que terá que suportar, seja na infância ou na adolescência. Aprender a ser resiliente ao tentar uma e outra vez é meta a ser alcançada pelas crianças, com os pais incentivando animadamente a recomeçar, mas retirando-se discretamente e a tempo de que a criança julgue que foi ela mesma quem conseguiu o feito. Um outro aspecto é fazer a criança acostumar-se a receber um “não” diante de pretensões inoportunas, sem achar que o mundo desabe sobre a cabeça dela. Trata-se de uma luta que os pais precisam enfrentar, sem temer o show de um berreiro no shopping ou supermercado, pois será o modo de ensinar a criança a ter capacidade de suportar situações adversas.

         As frustrações são necessárias para que a criança desenvolva tolerância às contrariedades, como acontece com todas as pessoas. Fazê-la crescer entre as almofadas e algodões da superproteção, despersonaliza e a torna frágil frente os inevitáveis reveses que a vida traz, seja na infância ou na adolescência. A frustração começa desde o berço quando o bebê não é atendido naquilo que deve esperar, pois as mães sabem quando um choro é motivado por alguma necessidade (alimentação, asseio, frio ou calor, doença…) ou por um capricho que pode aguardar, como não pegá-lo no colo ou não acender a luz do quarto de madrugada, a fim de que ele perceba que a noite é para dormir (a luz artificial não permite distinguir o dia da noite).

5 – A superproteção cerceia a autonomia da criança

         A superproteção impede a autonomia da criança, e pode ser praticada até mesmo sem que os pais se deem conta disso. Por exemplo, impacientes e com a desculpa de que não têm tempo para esperar – e porque farão mais rápido e melhor –, os pais por vezes se adiantam a realizar o que a criança poderia fazer sozinha, porém em menor velocidade ou destreza, que virá com o tempo, para se vestir sozinha, preparar seu lanche e arrumar seus apetrechos escolares ou fazer a cama ao acordar. Crianças de pais impacientes não sabem cortar o próprio bife no refeitório da escola, nem amarrar o tênis na aula de educação física…

A autonomia deve ser fomentada ainda quando os filhos são crianças: se o garoto trocou os sapatos de pés e indaga se estão corretos, não responda, mas pergunte sobre o que ele acha. Se houver um desentendimento com um amigo da escola, dialogue sobre que meios ele deverá ele empregar para resolver a situação.

6 – Atribuir encargos às crianças fomenta autonomia

         Responsabilizar os filhos para realizar tarefas no lar fortalece a vontade deles para cumprir outras obrigações, torna-se um treino para que enfrentem ideais mais custosos, além de os fazer pensar nos demais e não apenas em si próprios. Para evitar a superproteção e fomentar a autonomia das crianças, é importante que os filhos − do menor ao maior − tenham encargos no lar, adaptados à idade e à capacidades de cada um. Mas, seja por impaciência ou para evitar desconfortos ao filho, ou até porque não confia na capacidade dele, a mãe superprotetora não atribui encargos e vive dizendo: − Aí, vai quebrar o copo e se cortar; deixa que eu guardo. Ou – Eu levo a mochila pra você não cair. – Tadinho, a professora passou muita lição de casa! Ou – Cadeira malvada, por que você machucou o pé do meu filhinho?, e a mãe dá palmadas na cadeira como se o móvel fosse culpado pela imprudência da criança.

         As crianças colaboraram com alegria nas tarefas apropriadas à sua idade, e apreciam contribuir para a boa organização do lar. Sem esses encargos elas se tornam egoístas e interessadas apenas em suas coisas. Por isso, não se deve impedir nem substituir a criança pequena de cumprir qualquer tarefa que tenha capacidade de fazê-la, mesmo que no começo não faça com perfeição e exija paciente e bem-humorado treinamento. Com isso, ela ganhará autodomínio, independência, espírito de serviço e preocupação pelos demais. Crescer em autonomia é crescer em liberdade, e isso acontece quando os pais só intervêm quando é realmente necessário. É preciso confiar na capacidade dos filhos resolverem seus problemas, e perguntar sempre a opinião deles sobre o que pretendem fazer − se acham certo ou errado −, e dar chances para que reflitam sobre suas ações. Esse é o caminho para o amadurecimento de uma personalidade sadia. Veja neste link diversos vídeos onde mães oferecem dicas preciosas de tarefas que podem ser atribuídas aos filhos desde criança.

         Ao fomentar o sentido de responsabilidade e educar os filhos para que sejam movidos pelo amor e pelo espírito de serviço aos demais, os filhos cresçam em autonomia, ganham virtudes e amadureçam humana e espiritualmente.

Texto escrito por Ari Esteves para o site www.ariesteves.com.br. Imagem de Oleksandr Pidvalnyi

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