Dialogar é praticar a arte de se aproximar do outro. Diante dos desafios que a convivência multicultural traz à sociedade contemporânea, segundo Jutta Burggraf1, se faz necessário o diálogo para superar conflitos, preconceitos e violências que surgem das diferenças de mentalidades, culturas, opiniões e formas de viver. Para a cultura do diálogo não basta tolerar, mas é preciso ouvir, compreender e conversar para transmitir as próprias ideias de forma serena e respeitosa. Não se trata de anular as diferenças, mas de valorizá-las como fontes de enriquecimento mútuo. O diálogo não é um debate para vencer, mas uma caminhada em comum rumo à verdade. Nesse caminho, todos aprendem e crescem. No final, não haverá vencidos nem vencedores, mas pessoas convencidas pela verdade.
Adotar uma postura crítica e seletiva em relação aos meios de comunicação é necessário para que o excesso de informação não confunda e aliene. A convivência harmoniosa na sociedade multicultural só é possível pela cultura de diálogo, que se baseia na escuta, no pensamento crítico e na coragem de viver de forma consciente. Trata-se de um apelo à responsabilidade pessoal e coletiva neste mundo cada vez mais fragmentado e marcado pela diversidade cultural e constante mudança.
A influência invisível da opinião pública molda os pensamentos e impõe uma uniformização das opiniões. Com isso, deixa-se de fazer uma apreciação própria sobre os assuntos para seguir o que muitos dizem. É salutar redescobrir o valor do silêncio, da reflexão individual e do contato direto com a realidade. Não permitir que o cansaço físico e mental, aliado ao ritmo frenético da vida moderna, impeça a reflexão profunda porque parece ser mais atrativo refugiar-se nas telas digitais para se afastar do contato humano direto que propicia o diálogo aberto e o olho no olho.
Para criar a cultura do diálogo, algumas medidas são necessárias:
1-Adaptar-se à realidade atual. Em vez de resistir às transformações sociais e culturais com nostalgia ou medo, viver o presente com abertura e autenticidade. Reconhecer que a história avança e que a identidade humana se constrói no diálogo com o mundo atual.
2-O diálogo mais do que falar exige empatia, escuta ativa, amizade e autenticidade. Quem está em paz consigo mesmo encontra sua identidade e não teme acolher a opinião do outro. Esse respeito mútuo fomenta a verdadeira comunicação, mesmo entre pessoas com convicções ou opiniões diferentes.
3- Abrir-se ao mundo, pois todos têm algo a ensinar, mesmo que as opiniões nos pareçam erradas, pois nelas pode se esconder de alguma parte da verdade. O encontro com culturas diferentes enriquece a nossa própria visão do mundo, como acontece com os que regressam do estrangeiro, que retornam com “olhos novos”.
4. Compreender o outro exige mais do que informar-se, mas amar e ter simpatia para que da convivência nasça a cooperação real. Exemplo: os preconceitos históricos entre católicos e evangélicos na Alemanha só foram superados quando conviveram em situações-limite, como nos campos de concentração, onde todos se reconheceram como irmãos.
5-Respeitar é mais do que tolerar: é aceitar as diferenças como valor enriquecedor e reconhecer a liberdade do outro para viver segundo a sua consciência. Certo rei polonês afirmou “não sou rei das vossas consciências”, o que revela que o respeito profundo é base para qualquer convivência justa. Tomás de Aquino, na Suma Teológica, expõe com elegância intelectual e imparcialidade os argumentos contrários aos dele.
O verdadeiro diálogo é um exercício de humanidade, pois implica reconhecer a dignidade do outro, escutá-lo com o coração aberto para construir pontes entre mentalidades diferentes. Não se trata de anular as diferenças, mas de valorizá-las como fontes de enriquecimento mútuo.
O papel transformador do diálogo é caminho de autenticidade, crescimento e paz. Jutta Burgraff nos desafia a comunicar a verdade com delicadeza, reconhecendo o outro como interlocutor digno e não como adversário.
Condições para o diálogo verdadeiro:
1-Dar a conhecer a própria identidade com transparência fomenta o verdadeiro diálogo, que não esconde o que se pensa para evitar conflitos, já que tal atitude conduz a uma falsa e superficial harmonia. A comunicação genuína, sincera e respeitosa, fortalece as relações: quanto mais fiel for cada pessoa à sua consciência, mais autêntica será a unidade que nasce da verdade partilhada. Ser fiel às próprias convicções não exclui a convivência, pelo contrário, faz crescer o respeito mútuo.
2-Dialogar é dar e receber, é escutar com atenção e abertura, é reconhecer que o outro pode trazer uma perspectiva válida. O diálogo não é um debate para vencer, mas uma caminhada em comum rumo à verdade. Neste caminho, todos aprendem e crescem.
3- Distinguir entre o essencial e o acidental. É importante diferenciar o que é fundamental e inegociável na nossa identidade, daquilo que é opinável ou relativo. Segundo Newman e Kierkegaard, absolutizar o relativo é sinal de rigidez e mediocridade espiritual. Saber discernir o essencial e o acidental é essencial para um diálogo maduro e produtivo.
4-Humildade e abertura à verdade. Agostinho de Hipona dizia que ninguém deve afirmar que já encontrou plenamente a verdade. Devemos buscá-la juntos, com humildade e caridade. Esta atitude impede o orgulho e favorece uma escuta autêntica. No final, não haverá vencidos nem vencedores, mas pessoas convencidas pela verdade.
5- Dialogar é caminho para a paz e maturidade; é praticar a arte de se aproximar do outro, mesmo quando surgem mal-entendidos ou desilusões. Dialogar ajuda vencer barreiras, acolher a diversidade como riqueza e crescer em humanidade. Por isso, é urgente educar para o diálogo, desde cedo, seja nas famílias, escolas, nos ambientes de trabalho e na sociedade. Encorajar o diálogo intergeracional, por exemplo, entre pais e filhos, em torno dos conteúdos consumidos, promove o uso ativo e consciente das telas digitais e da internet, em vez de os rejeitar por completo.
Jutta Burggraf afirma que só haverá paz duradoura quando a verdade for abordada com caridade. O diálogo, para ser fecundo, exige identidade firme, espírito aberto e desejo sincero de comunhão. Trata-se de um caminho exigente, mas necessário e profundamente humano.
1Texto elaborado por Ari Esteves com base no artigo “Para uma cultura de diálogo”, de Jutta Burggraf, professora da Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra, em https://opusdei.org/pt-br/article/para-uma-cultura-de-dialogo/
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