
Saber dizer não à criança é uma atitude que os pais devem enfrentar para ajudá-la a fortalecer o caráter ao ter autocontrole, capacidade de dominar os sentimentos quando algo não ocorre como desejado, ter paciência para esperar… Não se trata de contrariar a criança sem que a razão maior seja o bem dela. O não é um limite de proteção como o guard rail, que evita o acidente de sair da pista. A falta de limites gera na criança instabilidade, insegurança e desorientação porque, quando pequena, não age motivada por raciocínios lógicos, mas por instinto que a faz buscar o que é agradável e fugir do que não o é: por exemplo, passará a manhã diante da televisão por falta de controle, sem medir as consequências desse comportamento sobre si mesma. A falta de ordem ou disciplina cria hábitos viciosos difíceis de arrancar. Quando não contrariada para deixar de abrir a geladeira fora de hora, guardar seus brinquedos e roupas, obedecer aos horários da casa (refeição, banho, divertimentos, encargos para a boa ordem do lar), a indômita criança será forçada pelos impulsos instintivos a fazer apenas o que é agradável.
Os psicólogos chamam a atitude de aguardar ou ter paciência para esperar de “saber adiar a gratificação”. Isso permite que a criança desenvolva o autocontrole para não se irritar porque as coisas não saem no momento que desejam. Adiar a gratificação também ocorre quando a criança primeiro cumpre suas pequenas obrigações no lar, como ajudar a colocar a mesa, tirar o pó dos móveis, levar o lixo para porta, dar de comer ao pet, e só depois sairá para brincar. A criança incapaz de adiar uma gratificação será escrava de seus instintos e paixões, que a impelirão a não esperar, e sem liberdade de dizer não a si mesma para renunciar algo que, mesmo bom e agradável, deve ser preterido para alcançar algo ainda melhor: ler um livro ao invés de jogar games, estudar com tempo e profundidade as matérias escolares…
Se a criança adiar algo prazeroso, porque compreendeu que há um motivo maior para isso, passará a ter as rédeas de si mesma, e não precisará que a todo momento os pais lhe digam o que fazer. Se o gosto pelos games ou desenhos fora de hora comandam as ações, o controle da criança não será dela, mas das circunstâncias externas que a comandam (os psicólogos chamam essa atitude de locus externo). Locus significa “lugar”, e locus de controle indica se a origem do comportamento da pessoa é externo ou interno. Se a criança desenvolver o locus de controle interno, não irá a reboque das circunstâncias externas, mas agirá por decisão de sua vontade e não porque seus sentimentos, instigados pelos objetos externos, a obrigam (locus de controle externo). Quanto mais cedo a criança desenvolver o locus de controle interno, mais saberá adiar a gratificação de abrir a geladeira fora de hora (terá temperança), não fugirá da obrigação de estudar (crescerá em fortaleza), ajudará nos encargos do lar (terá espírito de serviço), não dará show no supermercado porque lhe disseram que não comprariam a barra de chocolate que pediu (não manipulará os pais com birras)… Ou seja, crescerá responsável e forte, sem necessitar que os demais cumpram as obrigações que cabem a ela, fato que a despersonalizaria e a tornaria uma maria-mole (“com maria-mole não se faz alavanca”, diz um sábio refrão).
Sugerimos a leitura do boletim “A sobriedade se vive desde a infância”.
Texto elaborado por Ari Esteves para o site www.ariesteves.com.br. Imagem de Kampus Production.
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