Educar primeiro os afetos da criança

1 – Buscar a normalidade sentimental dos filhos. 2 – Iniciar a educação pelos hábitos de temperança e de fortaleza. 3 – O desequilíbrio afetivo conduz a comportamentos problemáticos. 4 – Os pais devem ser educados para educar bem.

1 – Buscar a normalidade sentimental dos filhos

         A normalidade sentimental ou afetiva da criança é a primeira e mais importante educação a ser oferecida pelos pais, e não pela escola. A normalização da afetividade (sentimentos, emoções e paixões) da pessoa humana é básica, e as falhas nesse âmbito tornarão difícil a educação da vontade e da inteligência.

         O equilíbrio dos afetos, paixões e sentimentos da primeira infância até aos dez ou onze anos, é indispensável para que as grandes faculdades espirituais (inteligência e vontade) se desenvolvam em toda potencialidade: a criança dominada pelo mal hábito da preguiça não se disporá a estudar e a cumprir outras tarefas porque a vontade estará enfraquecida para superar os sentimentos de má vontade; se não for educada para vencer-se e a ter autodomínio irá desmoronar diante das frustrações e reagirá de modo desproporcionado ao ser contrariada, defeitos que adentrarão na adolescência, juventude e idade adulta. O desequilíbrio afetivo e emocional trará dificuldades no desenvolvimento não só da aprendizagem, mas também na formação integral da personalidade.

2 – Iniciar a educação pelos hábitos de temperança e de fortaleza

         A criança move-se inicialmente pelo que é imediato, pelos caprichos de cada momento e impulsos primários, pois quer se sentir bem e deixar de se sentir mal, mesmo à custa de fazer coisas más ou deixar de fazer coisas boas. Por isso, convém iniciar a educação afetiva da criança pelos hábitos de temperança e de fortaleza: pela temperança ao educar para não abrir a geladeira e comer fora de hora ou só o que aprecia; para não passar horas e horas vendo desenhos e deixar de cumprir outras atividades. Quanto à educação para a fortaleza, que pode se desenvolver desde a primeira infância, começa quando a criança é estimulada a ser disciplinada para cumprir horários de banho, refeições, dormir e acordar; quando ajuda nos pequenos encargos do lar, adaptados à sua idade, como guardar brinquedos e roupas no lugar certo, enxugar o banheiro, colocar a fralda suja no lixo, colaborar na colocação de pratos e talheres na mesa, etc…

         O desenvolvimento de bons hábitos na criança deve anteceder a educação nas virtudes, pois estas exigem o querer livre da vontade iluminada pela inteligência, que começa a ocorrer a partir dos seis ou sete anos, quando a criança passa a compreender e a dizer, por exemplo: – Eu quero ter meu quarto, roupas e brinquedos ordenados. Antes disso, como a inteligência e a vontade ainda não estão desenvolvidas, a criança age mais em função de gostos ou caprichos, e necessita ser ajudá-la a criar hábitos bons que depois passarão a ser racionais ou queridos pela própria vontade.

3 – O desequilíbrio afetivo conduz a comportamentos problemáticos

         Se não há normalização sentimental porque as paixões se desorganizaram e passaram a ser dominantes, será difícil que a criança chegue à adolescência e à juventude com hábitos de estudo e capacidade de resiliência para alcançar ideais que exijam sacrifícios, que tenha autonomia e força de vontade para assumir responsabilidades… O desequilíbrio afetivo e o deixar-se conduzir apenas pelos sentimentos e emoções levará o adolescente ou jovem a ter dificuldades no domínio do temperamento e correrá o risco de buscar formas exageradas de divertimento, que facilmente o conduzirão à pornografia, às drogas ou a desajustes psicológicos.

4 – Os pais devem ser educados para educar bem

         Os pais devem se esforçar para se respeitarem, amarem-se, terem espírito de serviço, apoiarem-se mutualmente, não se desautorizarem ou se contradizerem: “um pai ou uma mãe mal-educados não podem ser bons educadores”, diz Leonardo Polo. Isso porque a fase mimética ou de imitação da criança é intensa na infância.

Texto produzido por Ari Esteves, inspirado no livro “Ayudar a crecer: cuestiones filosóficas de la educación”, de Leonardo Polo, Ediciones Universidad de Navarra, España, 2006.

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